Luís Vaz de Camões (1525? - 1580?)
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É o nome do mais célebre dos escritores portugueses. Era filho de Simão Vaz de Camões (descendente de um fidalgo galego que veio para Portugal no tempo de D. Fernando) e de Ana de Sá Macedo. Tudo parece indicar, embora a questão se mantenha controversa, que Camões pertencia à pequena nobreza.
Impossível determinar a terra natal do poeta. Lisboa? Coimbra? Admite-se que tenha estudado em Coimbra, uma vez que a vastidão e a profundidade da sua cultura dificilmente se explicam sem a frequência de estudos superiores, embora não haja qualquer prova de que tenha frequentado a Universidade. Provavelmente, estudou no Mosteiro de Santa Cruz, por volta de 1540. Na sua lírica, o poeta refere-se às «doces e claras águas do Mondego» e «Vão as serenas águas...»
A partir de 1550, Luís de Camões está em Lisboa, onde frequentava a Corte. Nesta época, terá passado por algumas desventuras amorosas. A estadia em Lisboa foi interrompida pelo serviço militar no Norte de África, onde foi ferido em combate, tendo perdido o olho direito ( Canção X). A sua estada em Ceuta é documentada na elegia «Aquela que de amor descomedido».
Em 1552, de regresso a Lisboa, frequenta dois meios muito diferentes: por um lado, participa nos serões do Paço e na vida da Corte, relacionando-se com fidalgos de alta estirpe e com algumas das principais damas da Corte. Por outro, entrega-se a uma vida de boémia, frequentando «damas de aluguer», fazendo parte de bandos de brigões e colaborando em rixas violentas. Na sequência de uma dessas brigas de rua, agrediu e feriu com a espada o encarregado dos arreios do monarca (um servidor real). Foi preso na cadeia do Tronco No ano seguinte foi posto em liberdade por ter sido perdoado pelo ofendido e por ter pedido perdão ao rei. Em Lisboa não se lhe conhece profissão ou modo de vida. Talvez por isso, Camões terá pensado em partir para a Índia como forma de ganhar a vida.
Em 1553, partiu para a Índia na nau S. Bento e desembarcou em Goa, local que o decepcionou. Chama-lhe «Babilónia onde mana/matéria a quanto mal o mundo cria».
Na Índia, presta serviço militar durante três anos e participa em importantes expedições guerreiras: ao Malabar e ao estreito de Meca, onde escreve a Canção «Junto de um seco, fero, estéril monte».
Os seus biógrafos referem as grandes dificuldades que terá passado no oriente: depois de liberto do serviço militar, enveredou pelo funcionalismo público, a par de períodos sem ocupação. Desempenhou o cargo de provedor dos defuntos e ausentes em Macau, mas alguns bens que tenha acumulado perdeu-os no naufrágio que sofreu de regresso à Índia, do qual teve de salvar-se a nado, salvando também o poema. Foi preso em Goa pelo governador Francisco Barreto, acusado de desviar em seu favor bens sobre os quais estava encarregado de velar.
Estes revezes deixam imaginar uma vida cheia de dificuldades, das quais se compensaria com um certo humor e com a camaradagem com os amigos, de que são testemunho os versos em que os convida para um banquete de... trovas.
Por volta de 1568, vai para Moçambique, esperando encontrar aí vida melhor. Diogo do Couto encontrou-o na miséria, tendo ajudado o Poeta a regressar a Lisboa. Aqui, empenha-se na publicação de Os Lusíadas, cuja 1.ª edição data de 1571.
Passa a usufruir de uma tença de 15000 réis anuais, que era já mesquinha para a época. depois da morte do poeta, esta tença passou para a sua mãe.
Os últimos tempos da vida de Luís de Camões ficaram na tradição como tempos de miséria e abandono. Quando morreu, em 10 de Junho de 1580, D. Gonçalo Coutinho mandou colocar uma lápide na sua sepultura com a seguinte inscrição: «Aqui jaz Luís Vaz de Camões, príncipe dos poetas do seu tempo. Viveu pobre e miseravelmente e assim morreu.»
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quinta-feira, 7 de março de 2013
Biografia de Camões
Portugal no tempo de Camões
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Sete amores de Camões
A poesia de Luís de Camões conta uma história acidentada e dramática, revelando o apaixonado inextinguível, que ao amor atribuiu a sua perdição.
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Sete têm sido as figuras femininas imaginadas como musas de Camões, que os críticos pretendem identificar nas suas rimas: Isabel de Tavares, talvez o amor dos seus tenros anos; uma das Catarinas de Ataíde conhecidas, a "Natércia"; a Infanta D. Maria ou, segundo outros, D. Francisca de Aragão, alto amor do Paço; Nise, ; Dinamene, possivelmente chinesa; Bárbara, que seria negra. Só uma coisa é certa: a volubilidade do poeta, que
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Críticos há que vêem em Isabel de Tavares, prima do poeta, a "minina dos olhos verdes", tratada em verso de redondilha e ligada a um certo clima de intimidade e de apego aos valores ingénuos e familiares, que entroncam nos temas medievais.
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Por outro lado, os amores com D. Catarina de Ataíde remetem, segundo alguns críticos, para o jogo cortesão. Já outros estudiosos entendem que Catarina- ou "Natércia"- seria uma outra prima do poeta, D. Catarina de Almada. Ter-se-iam conhecido em Coimbra e depois de se tornar Dama do Paço continuaram os inflamados amores.
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A mulher que Camões quis alcançar com um voo de "águia real" teria de ser da mais elevada linhagem. Daí o ter-se procurado identificá-la com D. Francisca de Aragão, altiva camareira da Rainha D. Catarina, que casou com D. João de Borja, e com quem, por certo, Camões se correspondeu. A D. Francisca dedicou Camões a glosa "Mas, porém, a que cuidados"
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Primorosamente engendrada é a hipótese de o grande amor do poeta ter sido a Infanta D. Maria, filha de D. Manuel e prometida a Filipe II de Espanha, que tantas paixões despertava na corte, quer pela sua formosura suavíssima, quer pela sua grande erudição. Imagina-se que tamanha audácia por parte de Camões o tenham feito cair em desgraça na Corte, provocando o seu afastamento. Crê-se mesmo que a "tese da Infanta" terá sido construída para justificar o desterro do poeta.
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A Nise, senhora que conheceu na Índia, também o poeta dedicou alguns dos seus versos.
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Tem significado especial, dentro da temática amorosa, a atitude do poeta perante a morte da amada.
O famoso soneto "Alma minha gentil...", revelador de uma atitude de resignação cristã e esperança no reencontro celestial, é certamente impessoal e imitação de sonetos de Petrarca.
A reacção pessoal de Camões face à perda da amada é bem diversa, como podemos comprovar pela leitura da série de sonetos consagrados à memória de Dinamene. O poeta não exprime a resignação cristã, antes o desespero pelo que não tem remédio algum; não vê a mulher querida no Céu, mas nas águas que a afogaram. Sendo Dinamene oriental, como se crê, facilmente se pode justificar que Camões não a imagine no Paraíso cristão. A separação é, pois, irremediável, e nem o mar e o céu, testemunhas do desaparecimento da amada, podem oferecer uma palavra de conforto ao poeta. Mesmo os sonhos servem para sublinhar este sentimento de perda definitiva, já que o reencontro, ainda que por breves instantes, é absolutamente impossível.
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Bárbara seria outra das figuras femininas enaltecidas por Camões. É apresentada com a particularidade de a sua negrura não ser metafórica mas racial. Biógrafos e comentadores imaginaram-na das mais variadas formas: uma vendedeira mulata que teria sustentado o poeta; uma bailarina "índia"; uma hábil criada, ou mesmo uma excelente cozinheira. O fundamental acerca de Bárbara não é, contudo, a imaginação novelesca em torno da sua figura, mas os singelos e conhecidos versos que inspirou.
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O amor como causa da perdição do poeta
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Erros meus, má fortuna, amor ardente
em minha perdição se conjuraram;
os erros e a fortuna sobejaram,
que para mim bastava o amor somente.
(...)
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volubilidade amorosa do poeta
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No tempo que de Amor viver soía,
Nem sempre andava ao remo ferrolhado; Antes agora livre, agora atado, Em várias flamas variamente ardia. Que ardesse num só fogo, não queria O Céu, porque tivesse exprimentado Que nem mudar as causas ao cuidado Mudança na ventura me faria. | E se algum pouco tempo andava isento, Foi como quem co peso descansou, Por tornar a cansar com mais alento. Louvado seja Amor em meu tormento, Pois para passatempo seu tomou Este meu tão cansado sofrimento! |
Isabel de Tavares
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Mote
Minina dos olhos verdes,
porque me não vedes?
Eles verdes são,
e têm por usança na cor, esperança, e nas obras não. Vossa condição não é d' olhos verdes, porque me não vedes. Isenções a molhos que eles dizem terdes, não são d' olhos verdes, nem de verdes olhos. Sirvo de giolhos e vós não me credes, porque me não vedes. |
Haviam de ser,
por que possa vê-los, que uns olhos tão belos não se hão-de esconder; mas fazeis-me crer que já não são verdes, porque me não vedes. Verdes não o são, no que alcanço deles; verdes são aqueles que esperança dão. Se na condição está serem verdes, porque me não vedes? |
Natércia
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Na metade do céu subido ardia
o claro, almo Pastor, quando deixavam
o verde pasto as cabras, e buscavam
a frescura suave da água fria.
Co a folha da árvore sombria,
do raio ardente as aves se emparavam;
o módulo cantar, de que cessavam,
só nas roucas cigarras se sentia,
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quando Liso pastor, num campo verde,
Natércia, crua Ninfa, só buscava
com mil suspiros tristes que derrama.
«Porque te vás de quem por ti se perde,
para quem pouco te ama?» suspirava.
0 Eco lhe responde: «Pouco te ama.»
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D. Francisca de Aragão
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Crecei, desejo meu, pois quea Ventura
já vos tem nos seus braços levantado; que a bela causa de que sois gerado o mais ditoso fim vos assegura. Se aspirais por ousado a tanta altura, não vos espante haver ao Sol chegado; porque é de águia real vosso cuidado, que, quanto mais o sofre, mais se apura. |
Ânimo, coração! que o pensamento
te pode inda fazer mais glorioso, sem que respeite a teu merecimento. Que cresças inda mais é já forçoso, porque, se foi de ousado o teu intento, agora de atrevido é venturoso. |
Glosa dedicada a D. Francisca de Aragão
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A dona Francisca de Aragão,
mandando-lhe esta regra que
lha glosasse MOTE Mas porém a que cuidados? VOLTA Tanto maiores tormentos foram sempre os que sofri daquilo que cabe em mi, que não sei que pensamentos são os para que naci. Quando vejo este meu peito a perigos arriscados inclinado, bem suspeito que a cuidadas sou sujeito: mas porém a que cuidados? | OUTRA AO MESMO Que vindes em mi buscar, cuidados, que sou cativo e não tenho que vos dar? Se vindes a me matar, já há muito que não vivo; se vindes, porque me dais tormentos desesperados, eu, que sempre sofri mais, não digo que não venhais: mas porém a quê, cuidados? |
Infanta D. Maria
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(...)E acordado já do pensamento
que tão desacordado o sempre teve, viu por acerto o bem que incerto tinha. E, porque onde Amor a mais se atreve, ali mais enfraquece o entendimento, não lhe soube dizer o que convinha. Como homem que à aprazada briga vinha, a quem de fora engana a confiança humana, | e despois, vendo o rosto a quem resiste, treme, teme o perigo, e não insiste, já se arrepende, a audácia lhe falece: destarte o pastor triste ousa, arreceia, esforça e enfraquece.
(...)
(excerto da écloga
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Nise
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Apartava-se Nise de Montano,
em cuja alma partindo-se ficava;
que o pastor na memória a debuxava,
por poder sustentar-se deste engano.
Pelas praias do Índico Oceano
sobre o curvo cajado se encostava,
e os olhos pelas águas alongava,
que pouco se doíam de seu dano.
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«Pois com tamanha mágoa e saüdade
- dezia - quis deixar-me a que eu adoro,
por testemunhas tomo Céu e estrelas.
Mas se em vós, ondas, mora piedade,
levai também as lágrimas que choro,
pois assi me levais a causa delas!»
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Dinamene
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Ah, minha Dinamene, assi deixaste
quem não deixara nunca de querer-te!
Ah, Ninfa minha, já não posso ver-te,
tão asinha esta vida desprezaste!
Como já para sempre te apartaste
de quem tão longe estava de perder-te?
Puderam estas ondas defender-te
que não visses quem tanto magoaste?
Nem falar-te somente a dura morte
me deixou, que tão cedo o negro manto
em teus olhos deitado consentiste!
Ó mar, ó Céu, ó minha escura sorte!
Que pena sentirei, que valha tanto,
que ainda tenho por pouco o viver triste?
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0 céu, a terra, o vento sossegado;
as ondas, que se estendem pela areia;
os peixes, que no mar o sono enfreia;
o nocturno silêncio repousado...
0 pescador Aónio que, deitado
onde co vento a água se meneia,
chorando, o nome amado em vão nomeia,
que não pode ser mais que nomeado.
«Ondas - dezia -, antes que Amor me mate,
tornai-me a minha Ninfa, que tão cedo
me fizestes à morte estar sujeita».
Ninguém lhe fala. 0 mar, de longe, bate;
move-se brandamente o arvoredo...
Leva-lhe o vento a voz, que ao vento deita.
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Quando de minhas mágoas a comprida
maginação os olhos me adormece,
em sonhos aquela alma me aparece
que para mim foi sonho nesta vida.
Lá nüa soïdade, onde estendida
a vista pelo campo desfalece,
corro para ela; e ela então parece
que mais de mim se alonga, compelida.
Brado: «Não me fujais, sombra benina!»
Ela (os olhos em mim cum brando pejo,
como quem diz que já não pode ser),
torna a fugir-me; e eu, gritando Dina...,
antes que diga mene, acordo e vejo
que nem um breve engano posso ter.
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Endechas a üa cativa com quem andava de amores na Índia, chamada Bárbora.
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Aquela cativa,
que me tem cativo porque nela vivo, já não quer que viva. Eu nunca vi rosa em suaves molhos, que para meus olhos fosse mais fermosa. Nem no campo flores, nem no céu estrelas me parecem belas como os meus amores. Rosto singular, olhos sossegados, pretos e cansados, mas não de matar.
Üa graça viva,
que neles lhe mora, para ser senhora de quem é cativa... |
Pretos os cabelos,
onde o povo vão perde opinião que os louros são belos. Pretidão de Amor, tão doce a figura, que a neve lhe jura que trocara a cor. Leda mansidão que o siso acompanha; bem parece estranha, mas bárbora não. Presença serena que a tormenta amansa; nela, enfim, descansa toda a minha pena. Esta é a cativa que me tem cativo. E pois nela vivo, é força que viva. |
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