quinta-feira, 7 de março de 2013

Portugal no tempo de Camões

PORTUGAL NO TEMPO DE CAMÕES
Ano de 1521. Inicia-se o longo reinado de D. João III. Portugal vive ainda a euforia das realizações marítimas, do tempo de D. Manuel, O Venturoso. D. João III surge como o continuador de uma política expansionista, para a qual lhe vão faltando as estruturas de apoio necessárias. O comércio era a grande base da economia portuguesa. No entanto, o país pouco produzia e, pelo contrário, aumentava a sua dependência quanto à prata que, originária da América do Sul, chegava à Espanha em enormes quantidades. Este metal cada vez se torna mais necessário para alimentar o comércio com o Oriente. A ausência de empresas manufactureiras obriga Portugal à total compra de produtos, para os quais se fornecia a matéria-prima, que vai chegando dos vários pontos do Império. Crises agrícolas sucessivas obrigam o país a importações praticamente anuais de trigo castelhano. E, assim, a economia nacional depende cada vez mais do comércio colonial.
Todos estes problemas vão obrigar o Rei a abandonar várias praças africanas, de 1534 a 1540. O déficit vai crescendo. Apesar disso, o tipo de vida mantém-se com o mesmo luxo e riqueza. A sociedade portuguesa, principalmente a classe nobre, vê-se na quase total dependência do rei. Do monarca depende para concessão de qualquer mercê, seja nobre ou mercador. Ao rei acorrem os povos a apresentar as suas queixas, nas poucas cortes que convoca. A coroa domina no campo comercial através do seu monopólio: é ela a maior proprietária. Desta interferência só se vai libertando o clero, pois constitui o apoio do rei para a efectuação da sua política absoluta.
D. João III orgulha-se de praticar o mecenato: em torno da sua corte evoluem as personalidades mais significativas do Renascimento português, como Garcia de Resende, Damião de Góis, Pedro Nunes. Lança-se na campanha reformista da Universidade, transferida de vez para Coimbra. Funda o Colégio das Artes.
Mais tarde, a tendência religiosa e mesmo fanática de D. João III leva-o a perseguir personalidades de nomeada no ensino, que se mostravam abertas às novas ideias reformistas. Muitos foram entregues à Inquisição. Esta viragem na maneira de pensar real afasta da Corte os poucos espíritos renascentistas ainda existentes no panorama português. A Inquisição e o tratamento pouco acolhedor dado a muitos dos pensadores estrangeiros atraídos a Portugal pela fama da corte portuguesa não facilita a existência de muitos humanistas no país.
Ano de 1550. Portugal assiste ao findar do governo de D. João III e à impossibilidade de manter um império tão extenso.. Não podendo conservar o monopólio dos mares, desmoronam-se as bases com que o país se guindara ao primeiro plano, entre as nações europeias, em décadas anteriores. 
É assim o Portugal desta época: vivendo os restos de uma grandeza que se vai, girando em torno de uma corte cujo centro é um rei ilusoriamente mecenático. Lisboa, capital do reino, cidade onde a corte vive e o povo sobrevive, é o centro das atenções de quem quer singrar.
Para esta cidade vem um mancebo de ascendência vagamente nobre, mas de escassos recursos. Procura, como tantos outros, um emprego na corte e traz a cabeça cheia de trovas. Esse mancebo que, em 1550, atravessou o chamado Terreiro do Paço em direcção ao Paço da Ribeira, chamava-se Luís Vaz de Camões.
LINA FERREIRA PAZ, Luís Vaz de Camões ou A Universalidade de Um Pensamento (texto adaptado)
 
LISBOA NO TEMPO DE CAMÕES
         Lisboa vivia agora a sorte das grandes cidades da Europa. Pelas suas ruas circulavam mercadores de especiarias e ourives de todo o mundo, particularmente  gente do Mediterrâneo, que começava a perceber serem estes mercados os sucessores de Veneza.
         O Tejo era uma babel de barcos e, no cais, as línguas variadas dos marinheiros eram uma nota permanente que fazia da mais ilustre cidade do reino uma terra de viagens de estar e não estar, de chegar e de partir, de longos percursos pelo tempo e por rotas impossíveis.
         Algodão, malagueta, marfim, escravos... enchiam a Casa da Mina, tendo sido depois criada a Casa da Guiné.
         As ruas de Lisboa, principalmente perto do porto e dos barcos, fervilhavam de gentes, de dinheiro, de mercadorias, de calafates, de ferreiros, de carpinteiros navais do estaleiro da Ribeira. Marinheiros com camisas simples de burel, outros de camisas mouras, mulheres de lenço e bragal, misturavam-se com os veludos e as rendas, sob as arcadas do Hospital de Todos-os-Santos ou no adro da Ermida da Senhora do Amparo.
        






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