domingo, 8 de setembro de 2013

Recriando a Literatura da Idade Média



RECRIANDO A LITERATURA DA IDADE MÉDIA




Autora: Marisa Aparecida de Souza Oliveira
Centro Educacional SESI -  Bragança Paulista
1ª ano do Ensino Médio
                                                     Língua Portuguesa





Bragança Paulista
2013
Resumo da Sequência Didática – Recriando a literatura da Idade Média

Partindo do que é literatura, a sequência relatada, apresenta os resultados obtidos com os estudos iniciais e progressivos para se chegar ao aprofundamento das escolas da Idade Média: Trovadorismo e Humanismo. Iniciada diante da curiosidade da turma e ao mesmo tempo insegurança gerada pelo estudo do novo.
Um trabalho que resultou na construção do conhecimento significativo de diversas competências e habilidades, como descobrir um mundo antigo e ao mesmo tempo novo ao educando, diante das possibilidades de relacionar, estabelecer, comparar e inferir nesse traçado de descobertas, que oportunizaram  recriação e prazer, gerados por cada interação de grupos, com as ações que permitiram pesquisar, repensar, opinar, refutar e encontrar caminhos para vencer os desafios lançados, resultando em produtos finais do conhecimento, como produções de cantigas, colocando-se no  papel de um trovador, compondo um cancioneiro, novelas de cavalaria, debates, vivenciar personagens e conflitos da época, saborear Gil Vicente.
Contextos promissores do emocionar, revelar o poder da igreja, o Teocentrismo, os versos e recursos musicais, as regras do amor cortês, a vassalagem... Uma parte dessa literatura, “espécie de supermicroscópio da alma humana”, capaz de identificar características de um povo e sociedade, revelar modelos à literatura brasileira, enfim tantos dizeres e ais.


Introdução
          
A vinda para o Ensino Médio desperta muita ansiedade nos educandos diante das mudanças que acontecem e dos conteúdos curriculares que tornam-se bem mais amplos, um exemplo disso é o que acontece nas aulas de língua Portuguesa, quando a esta adicionam-se as aulas de literatura. Embora os educandos já venham em contato com elementos do termo: textos literários, poemas, autores, porém ainda não estabelecem a relação de tudo isso, assim o termo literatura, causa ansiedade e curiosidade, as quais devem ser vistas como elementos positivos e indicadores a uma avaliação diagnóstica de que o aluno tem curiosidade e ao mesmo tempo, como qualquer ser humano receio do novo.
Este termostato torna-se útil ao professor, uma vez que deverá aproveitar-se para conquistar seus alunos e estabelecer uma relação interpessoal. Diante da percepção, os conteúdos que comporão a disciplina deverá seduzir, ser relevante, ter significado ao professor e aluno. Enfim é papel do professor dosar tudo isso, permitindo nortear olhares e ações que coloquem o educando em contato com o novo, estabelecendo relações com o que já conhece, seduzindo, comparando passado e presente e permitindo, principalmente, em literatura, que o educando vivencie, viaje ao passado, descubra novos mundos que um dia existiram, relacione e interaja com o que descobriu. Assim, com certeza, a significância estará em evidência, e somada a ela o prazer de reviver estes momentos.
Partindo destas considerações, relato minhas experiências como educadora de uma turma de 1º ano do Ensino Médio, que valem a pena relembrar pelo envolvimento, ansiedade e entusiasmo que nos contagiou, permitindo produtos finais, que permitiram a percepção de que o aprendizado aconteceu com significância à vida.

Justificativa e relevância

Considerando as expectativas de aprendizagem, esta sequência partiu da necessidade de introduzir “literatura” e as escolas literárias da Idade Média, um período tão distante, de forma que tivessem significado para os discentes, que encontravam-se ansiosos para mergulhar nos estudos desta época fascinante. Era o momento oportuno para que o gosto pelo literário deste tempo remoto se tornasse evidente e concreto no aprendizado do educando.
A curiosidade pela literatura era intensa, indícios de que eu não poderia decepcioná-los, era o momento de tornar essa viagem prazerosa, cheia de mistérios, uma viagem para jamais ser esquecida, o alicerce para o aprofundamento de outras escolas serem enraizadas.
Para tal, teria de contagiá-los, voltarmos ao tempo e vivenciarmos situações. Uma oportunidade para levá-los a agir sobre a época, conhecendo, buscando informações e retextualizando-as com a habilidade criativa dos educandos.
Objetivos
- Introduzir os estudos literários dinamizando-os para torná-los significativos ao aprendizado do educando;
- Otimizar as habilidades de produzir, relacionar, opinar, refutar, oportunizando evidências para que aconteçam naturalmente;
- Permitir que os educandos recriem os movimentos da Idade Média, interagindo e recriando o passado e estabelecendo relações com o presente.
Expectativas de aprendizagem
• Ler, interpretar e produzir textos orais e escritos de diversos gêneros, tais como:  cantiga popular, carta pessoal, carta formal, contos populares em prosa e em versos, comédia teatral, cordel diário de bordo, e-mail, poema (epopeia, soneto), relato histórico, sermão, trova entre outros.
• Realizar inferências, estabelecendo, a partir do explicitado, relações implícitas que possibilitem compreender e interpretar as ideias do texto.
• Localizar, selecionar, organizar, relacionar e interpretar informações contidas no texto lido, explicando-as.
• Observar, inferir e comparar opiniões presentes em diferentes textos.
• Pesquisar em diferentes fontes informações sobre obras, autores ou temas, comparando e analisando os dados obtidos.
• Interpretar e compreender os recursos expressivos da linguagem verbal, para identificar e distinguir sua aplicabilidade em diferentes gêneros textuais e, além disso, estabelecer relações com os contextos de produção e recepção (intenção, época, local, interlocutores participantes da criação e da propagação de ideias e escolhas, suporte/ portador, tecnologias disponíveis, etc).
• Produzir textos orais e escritos utilizando as estruturas linguísticas aprendidas, fazendo escolhas e adequações ao gênero proposto.
• Reconhecer, interpretar, relacionar e analisar as produções artísticas (literatura, escultura, pintura, música, moda, etc.) nos movimentos literários, enfatizando principais autores e obras, para estabelecer comparações entre os diferentes momentos históricos e refletir sobre as transformações sociais.
• Realizar a leitura literária de produções de diferentes movimentos literários da Era Medieval (Trovadorismo e Humanismo) [...] distinguindo suas estéticas, características e especificidades.
• Estabelecer diferenças e semelhanças entre textos literários escritos em língua portuguesa, reconhecendo e valorizando as produções artísticas em diferentes culturas.
• Discutir sobre a função da literatura na transmissão do conhecimento, enfatizando o cultivo da arte literária em diferentes tempos e sociedades.
• Usar a linguagem para opinar, argumentar (ideias e ponto de vista) de modo coerente e coeso, tanto na produção oral quanto na escrita.
Metodologias/ Desenvolvimento das atividades
Roda de Conversa – Para introdução da sequência didática, questionei os sobre: O que é literatura?  Solicitei que escrevessem uma definição sobre o tema. Relacionando com as diversas definições de literatura trazidas no CD-ROM que acompanha o livro didático: Português Linguagens (CEREJA e MAGALHÃES, 2008). Resultando em um painel com as definições do que é literatura, após socialização das respostas.
Atividade 1 – Continuando, estudamos sobre as funções da linguagem, e os gêneros literários, comparando diferentes textos literários do livro didático: Português Linguagens (CEREJA e MAGALHÃES, 2008, p.33-35), entre outros diversos, com o propósito de reconhecê-los, analisá-los, somando a importância destes na literatura e produção de textos com diferentes funções e posteriormente com os gêneros literários em estudo. 
Atividade 2 – Propus a pesquisa das escolas literárias (LIE), comparando os períodos de existência de cada uma. Socializamos os resultados, somando a conhecimentos extras.
Atividade 3 – Caminhando ao Trovadorismo, solicitei pesquisas no (LIE), após socialização oral, abordamos seu contexto histórico, aproveitando de ilustrações, slides, filmes, leitura da obra: Dom Quixote de La Mancha, (CERVANTES, Tradução e Adaptação de Walcir Carrasco, 2002, pág. 1-144). Aproveitando para comparar com os Dons Quixotes do presente, intertextualizar com as músicas que abordam este herói, para muitos “demente”, e avaliar com a produção de uma releitura da obra em quadrinhos e questões opinativas e reflexivas.
Atividade 4 – Partimos para o conhecimentos dos diversos gêneros do período (cantigas, novelas de cavalaria), através de leitura destes textos e análise de cada um deles, tanto grupal, como individual e coletiva.
Atividade 5 – Retomada: passado ao presente, ouvimos a música “Sozinho”, Peninha, compositor de MPB, interpretada por Caetano Veloso. E socializamos as impressões causadas, a relação com as cantigas e ideia central.
Atividade 6 – Apresentei a cantiga de amigo “Ai, flores, do verde pino”, (D. Dinis, adaptada por Alexandre Pinheiro Torres). Neste momento, esclareci possíveis dúvidas sobre o período, explorando as diferentes cantigas cultivadas na época, como reforço de elementos essenciais do período, após a contextualização das cantigas, fixei nas relações estabelecidas com a música “Sozinho”, Peninha, compositor de MPB, interpretada por Caetano Veloso. Estimulei a perceberem que, embora separadas por mais de 600 anos, ambas as canções abordam essencialmente o mesmo tema. Explorando os recursos utilizados, como linguagem, estrutura, ambiente, etc. E as ideias implícitas em ambos os textos.
Atividade 7 – Propus pesquisa no LIE das principais obras da época, peças teatrais, cantigas, novelas de cavalaria, poesias. Leitura e análise dos elementos estruturais das cantigas e das novelas de cavalaria, relacionadas ao livro didático Português Linguagens (CEREJA e MAGALHÃES, 2008, p.45-49 e 72-87).
Atividade 8 – Relacionamos o passado ao presente e assim organizamos um momento para áudio do amor cantado nas cantigas, ainda existente em nossas músicas. Os educandos buscaram um repertório bastante significante à relação. 
Atividade 9 - Conhecida e explorada os tipos de cantigas e sua funcionalidade, propus a turma tomar o papel de um trovador, escrevendo cantigas. Compuseram muitas, seguindo as características do gênero, apresentaram com instrumentos musicais, porém mais modernos, como o violão. Resultando no produto final: Cancioneiro, escrito com letras e papel que nos remetem a época. 
Atividade 10 – Estudamos as novelas de cavalaria, seu contexto, temas, relação com o presente e então, propus a escrita de um roteiro de novela de cavalaria. Para mobilizar e facilitar a compreensão e visualização assistimos ao filme: Lancelot – o primeiro cavaleiro, (ZUCKER, 1995).
Atividade 11 – Problematização e relação passado e presente. Instiguei-os através de um comentário sobre o feminismo. Questionei-os: Será que Amélia, a “mulher de verdade” da canção, é um exemplo para o século XXI?  Prossegui relacionando à leitura do texto: Generosidade masculina, (KANITZ, Revista Veja, 2008 – Ponto de Vista), relatando depois que durante milênios, as pessoas viviam tórridos relacionamentos, mas não costumavam se declarar apaixonadas e provavelmente nem identificavam com precisão esse sentimento. Somente na Idade Média (do século X ao XV) surgiram no seio da nobreza as formas do chamado amor cortês. As juras de fidelidade eterna e os casos de paixão correspondida - ou não - foram incorporados à sensibilidade e à literatura medievais.
Atividade 12 -  Na biblioteca, propus a retomada do que sabem sobre as cantigas. Dividindo a turma em grupos e apresentei slides do quadro “E se Houvesse Mais Lama? ( LATINSTOCK e JARDINS, 2006, reportagem de Veja). Questionei-os sobre uma situação da imagem.  Uma oportunidade para avaliação do processo, através da sistematização do conhecimento.


Atividade 13 – Leitura do texto “Bons Tempos Aqueles”, (Revista Veja, 2008). Para enriquecer as discussões, propus, na biblioteca, que as equipes também levassem em conta algumas linhas de argumentação contra o machismo, resultando em um debate sobre a questão: O companheiro ideal é aquele que tenta mascarar com gestos corteses uma sensibilidade de troglodita? Ou o que, apesar de sua elegância, considera a figura feminina sua propriedade e age com a brutalidade dos homens das cavernas?
Atividade 14 - Encaminhei um exercício que envolve a percepção geral em relação ao comportamento homem–mulher. Dividi os adolescentes segundo o sexo e pedi que cada grupo estabelecesse formas de tratamento que julgam adequadas para as relações de gênero. Um momento oportuno para a avaliação da oralidade adequada e escrita através das produções argumentativas que propus.
Atividade 15 - Estudo do Humanismo, seguindo praticamente a mesma metodologia, (pesquisa - LIE) dividida em grupos para apresentação futura de seminários: Contexto Histórico, Características, Principais representantes, o teatro. Orientei os alunos sobre como pesquisar, oferecendo um roteiro relevante. Passos para registrar o conteúdo e como se daria a sistematização.
Atividade 16 – Na biblioteca, leitura e comentários sobre Erasmo de Roterdã - O porta-voz do Humanismo, (Revista Veja, nº 423230, 2008), estabelecida relações, seguimos com comparações sobre a transição e observação de imagens.
Atividade 17 – Propus um trabalho mais focado nas obras de Gil Vicente. Após conhecerem o autor, propus a leitura dos autos: Farsa de Inês Pereira, O Velho da Horta, A barca do Inferno. Conhecemos alguns trechos de outros autos também para análise e estudo textual.
Atividade 18 – Socialização das leituras: oral, escrita e também dramatização do auto: A Barca do Inferno, Gil Vicente. A equipe escolhida adaptou a obra, elaborou um painel de divulgação da peça e tempos depois, concretizaram com a apresentação.
Atividade 19 – Momento da avaliação final da sequência – a escrita de textos que retomaram o período medieval e retextualizações, neste momento as observações desta viagem, enriqueceram com a magia da criatividade.

Conclusão
           
Conforme é sabido a intenção essencial desta sequência foi aproximar os educandos da literatura, até então, “não descoberta”, conduzidos para que se conhecesse e tudo se tornasse significativo.
Para tal, o destino traçado foi aproveitar-se de artimanhas didáticas para seduzir.
Assim, a literatura, no contexto do parágrafo anterior, por sua vez, teria de colocar em prática a sua magia e exalar-se pelo ar, permitindo que os educandos fossem levados a uma época remota, porém cheia de riquezas. Mil aromas, cores, sabores, sons, trovadores, amores impossíveis, transições... A essência do teatro medieval encantou a todos, permitindo que a emoção tomasse conta da alma e também as denúncias apresentadas com as cantigas satíricas, colocassem em evidência as opiniões e também a possibilidade de refutá-las. O desejado aconteceu! Os educandos submeteram a um passado ligado ao presente e assim reviveram a época, tornando-se, em meio à fantasia, trovadores, autores de cantigas reunidas em cancioneiro, personagens do Auto da Barca do Inferno. Gil Vicente reviveu! O cavaleiro andante, ganhou espaço nos quadrinhos, as novelas de cavalaria reprisaram, enfim a literatura da época reviveu nas mãos de aprendizes, que recriaram a literatura. 





Referências bibliografias

ANTUNES, I. Aula de português. Encontro e interação. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa/Secretaria de Educação. Fundação Brasília, 1997.
CEREJA, Willian Roberto & MAGALHÃES, Thereza Cochar.  Português Linguagens 1. São Paulo, Ed. Atual, 2008.
CERVANTES, Miguel de.  Dom Quixote, Tradução e Adaptação de Walcir Carrasco, Ed. FTD, 2002.
COSTA VAL. O que é produção de texto na escola? In: Presença pedagógica. Vol. 4, 1998, nº 20, p. 83 – 87.
MARCUSCHI, Luiz Antonio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2001.
SESI – SP. Referenciais Curriculares da rede SESI – São Paulo: SESI, 2003 CD – ROM.

Documentos Eletrônicos

http://veja.abril.com.br/saladeaula, acesso em 01/02/2011.
http://revistaescola.abril.com.br/planos-de-aula/‎, acesso em 02/02/2011    http://letras.terra.com.br/engenheiros-do-hawaii/72889/, acesso em 03/02/2011.     http://portaldoprofessor.mec.gov.br/espacoDaAula, acesso em 03/02/2011.        http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=509, acesso em 03/02/2011.
http://veja.abril.com.br/historia/descobrimento/literatura-erasmo-roterda‎, acesso em 05/02/2011.





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