RECRIANDO
A LITERATURA DA IDADE MÉDIA
Autora:
Marisa Aparecida de Souza Oliveira
Centro
Educacional SESI - Bragança Paulista
1ª
ano do Ensino Médio
Língua Portuguesa
Bragança
Paulista
2013
Resumo da Sequência Didática – Recriando a literatura da Idade Média
Partindo
do que é literatura, a sequência relatada, apresenta os resultados obtidos com
os estudos iniciais e progressivos para se chegar ao aprofundamento das escolas
da Idade Média: Trovadorismo e Humanismo. Iniciada diante da curiosidade da
turma e ao mesmo tempo insegurança gerada pelo estudo do novo.
Um
trabalho que resultou na construção do conhecimento significativo de diversas
competências e habilidades, como descobrir um mundo antigo e ao mesmo tempo
novo ao educando, diante das possibilidades de relacionar, estabelecer,
comparar e inferir nesse traçado de descobertas, que oportunizaram recriação e prazer, gerados por cada
interação de grupos, com as ações que permitiram pesquisar, repensar, opinar,
refutar e encontrar caminhos para vencer os desafios lançados, resultando em
produtos finais do conhecimento, como produções de cantigas, colocando-se
no papel de um trovador, compondo um
cancioneiro, novelas de cavalaria, debates, vivenciar personagens e conflitos
da época, saborear Gil Vicente.
Contextos
promissores do emocionar, revelar o poder da igreja, o Teocentrismo, os versos
e recursos musicais, as regras do amor cortês, a vassalagem... Uma parte dessa
literatura, “espécie de supermicroscópio da alma humana”, capaz de identificar
características de um povo e sociedade, revelar modelos à literatura
brasileira, enfim tantos dizeres e ais.
Introdução
A vinda para o Ensino Médio desperta muita
ansiedade nos educandos diante das mudanças que acontecem e dos conteúdos
curriculares que tornam-se bem mais amplos, um exemplo disso é o que acontece
nas aulas de língua Portuguesa, quando a esta adicionam-se as aulas de
literatura. Embora os educandos já venham em contato com elementos do termo:
textos literários, poemas, autores, porém ainda não estabelecem a relação de
tudo isso, assim o termo literatura, causa ansiedade e curiosidade, as quais
devem ser vistas como elementos positivos e indicadores a uma avaliação
diagnóstica de que o aluno tem curiosidade e ao mesmo tempo, como qualquer ser
humano receio do novo.
Este termostato torna-se útil ao professor, uma vez
que deverá aproveitar-se para conquistar seus alunos e estabelecer uma relação
interpessoal. Diante da percepção, os conteúdos que comporão a disciplina
deverá seduzir, ser relevante, ter significado ao professor e aluno. Enfim é
papel do professor dosar tudo isso, permitindo nortear olhares e ações que
coloquem o educando em contato com o novo, estabelecendo relações com o que já
conhece, seduzindo, comparando passado e presente e permitindo, principalmente,
em literatura, que o educando vivencie, viaje ao passado, descubra novos mundos
que um dia existiram, relacione e interaja com o que descobriu. Assim, com
certeza, a significância estará em evidência, e somada a ela o prazer de reviver
estes momentos.
Partindo
destas considerações, relato minhas experiências como educadora de
uma turma de 1º ano do Ensino Médio, que valem a pena relembrar pelo
envolvimento, ansiedade e entusiasmo que nos contagiou, permitindo produtos
finais, que permitiram a percepção de que o aprendizado aconteceu com
significância à vida.
Justificativa e relevância
Considerando
as expectativas de aprendizagem, esta sequência partiu da necessidade de
introduzir “literatura” e as escolas literárias da Idade Média, um período tão
distante, de forma que tivessem significado para os discentes, que
encontravam-se ansiosos para mergulhar nos estudos desta época fascinante. Era
o momento oportuno para que o gosto pelo literário deste tempo remoto se tornasse
evidente e concreto no aprendizado do educando.
A
curiosidade pela literatura era intensa, indícios de que eu não poderia
decepcioná-los, era o momento de tornar essa viagem prazerosa, cheia de
mistérios, uma viagem para jamais ser esquecida, o alicerce para o aprofundamento
de outras escolas serem enraizadas.
Para
tal, teria de contagiá-los, voltarmos ao tempo e vivenciarmos situações. Uma
oportunidade para levá-los a agir sobre a época, conhecendo, buscando
informações e retextualizando-as com a habilidade criativa dos educandos.
Objetivos
-
Introduzir os estudos literários dinamizando-os para torná-los significativos
ao aprendizado do educando;
-
Otimizar as habilidades de produzir, relacionar, opinar, refutar, oportunizando
evidências para que aconteçam naturalmente;
-
Permitir que os educandos recriem os movimentos da Idade Média, interagindo e
recriando o passado e estabelecendo relações com o presente.
Expectativas de aprendizagem
•
Ler, interpretar e produzir textos orais e escritos de diversos gêneros, tais
como: cantiga popular, carta pessoal,
carta formal, contos populares em prosa e em versos, comédia teatral, cordel
diário de bordo, e-mail, poema (epopeia, soneto), relato histórico, sermão,
trova entre outros.
•
Realizar inferências, estabelecendo, a partir do explicitado, relações
implícitas que possibilitem compreender e interpretar as ideias do texto.
•
Localizar, selecionar, organizar, relacionar e interpretar informações contidas
no texto lido, explicando-as.
•
Observar, inferir e comparar opiniões presentes em diferentes textos.
•
Pesquisar em diferentes fontes informações sobre obras, autores ou temas,
comparando e analisando os dados obtidos.
•
Interpretar e compreender os recursos expressivos da linguagem verbal, para
identificar e distinguir sua aplicabilidade em diferentes gêneros textuais e,
além disso, estabelecer relações com os contextos de produção e recepção
(intenção, época, local, interlocutores participantes da criação e da
propagação de ideias e escolhas, suporte/ portador, tecnologias disponíveis,
etc).
•
Produzir textos orais e escritos utilizando as estruturas linguísticas
aprendidas, fazendo escolhas e adequações ao gênero proposto.
•
Reconhecer, interpretar, relacionar e analisar as produções artísticas
(literatura, escultura, pintura, música, moda, etc.) nos movimentos literários,
enfatizando principais autores e obras, para estabelecer comparações entre os
diferentes momentos históricos e refletir sobre as transformações sociais.
•
Realizar a leitura literária de produções de diferentes movimentos literários
da Era Medieval (Trovadorismo e Humanismo) [...] distinguindo suas estéticas,
características e especificidades.
•
Estabelecer diferenças e semelhanças entre textos literários escritos em língua
portuguesa, reconhecendo e valorizando as produções artísticas em diferentes
culturas.
•
Discutir sobre a função da literatura na transmissão do conhecimento,
enfatizando o cultivo da arte literária em diferentes tempos e sociedades.
•
Usar a linguagem para opinar, argumentar (ideias e ponto de vista) de modo
coerente e coeso, tanto na produção oral quanto na escrita.
Metodologias/ Desenvolvimento das
atividades
Roda de Conversa –
Para introdução da sequência didática, questionei os sobre: O que é
literatura? Solicitei que escrevessem
uma definição sobre o tema. Relacionando com as diversas definições de
literatura trazidas no CD-ROM que acompanha o livro didático: Português Linguagens (CEREJA e MAGALHÃES,
2008). Resultando em um painel com as definições do que é literatura, após socialização
das respostas.
Atividade 1 –
Continuando, estudamos sobre as funções da linguagem, e os gêneros literários,
comparando diferentes textos literários do livro didático: Português Linguagens (CEREJA e MAGALHÃES, 2008, p.33-35), entre
outros diversos, com o propósito de reconhecê-los, analisá-los, somando a
importância destes na literatura e produção de textos com diferentes funções e
posteriormente com os gêneros literários em estudo.
Atividade 2 –
Propus a pesquisa das escolas literárias (LIE), comparando os períodos de
existência de cada uma. Socializamos os resultados, somando a conhecimentos
extras.
Atividade 3 – Caminhando
ao Trovadorismo, solicitei pesquisas no (LIE), após socialização oral,
abordamos seu contexto histórico, aproveitando de ilustrações, slides, filmes, leitura
da obra: Dom Quixote de La Mancha, (CERVANTES, Tradução e Adaptação de Walcir Carrasco, 2002, pág. 1-144). Aproveitando
para comparar com os Dons Quixotes do presente, intertextualizar com as músicas
que abordam este herói, para muitos “demente”, e avaliar com a produção de uma
releitura da obra em quadrinhos e questões opinativas e reflexivas.
Atividade 4 –
Partimos para o conhecimentos dos diversos gêneros do período (cantigas,
novelas de cavalaria), através de leitura destes textos e análise de cada um
deles, tanto grupal, como individual e coletiva.
Atividade 5 – Retomada:
passado ao presente, ouvimos a música “Sozinho”,
Peninha, compositor de MPB, interpretada por Caetano Veloso. E socializamos as impressões causadas, a relação com as cantigas
e ideia central.
Atividade 6 – Apresentei
a cantiga de amigo “Ai, flores, do verde
pino”, (D. Dinis, adaptada por Alexandre Pinheiro Torres). Neste momento,
esclareci possíveis dúvidas sobre o período, explorando as diferentes cantigas
cultivadas na época, como reforço de elementos essenciais do período, após a
contextualização das cantigas, fixei nas relações estabelecidas com a música “Sozinho”, Peninha, compositor de MPB,
interpretada por Caetano Veloso. Estimulei
a perceberem que, embora separadas por mais de 600 anos, ambas as canções
abordam essencialmente o mesmo tema. Explorando os recursos utilizados, como
linguagem, estrutura, ambiente, etc. E as ideias implícitas em ambos os textos.
Atividade 7 –
Propus pesquisa no LIE das principais obras da época, peças teatrais, cantigas,
novelas de cavalaria, poesias. Leitura e análise dos elementos estruturais das
cantigas e das novelas de cavalaria, relacionadas ao livro didático Português Linguagens (CEREJA e MAGALHÃES,
2008, p.45-49 e 72-87).
Atividade 8 –
Relacionamos o passado ao presente e assim organizamos um momento para áudio do
amor cantado nas cantigas, ainda existente em nossas músicas. Os educandos
buscaram um repertório bastante significante à relação.
Atividade 9 -
Conhecida e explorada os tipos de cantigas e sua funcionalidade, propus a turma
tomar o papel de um trovador, escrevendo cantigas. Compuseram muitas, seguindo
as características do gênero, apresentaram com instrumentos musicais, porém
mais modernos, como o violão. Resultando no produto final: Cancioneiro, escrito
com letras e papel que nos remetem a época.
Atividade 10 –
Estudamos as novelas de cavalaria, seu contexto, temas, relação com o presente
e então, propus a escrita de um roteiro de novela de cavalaria. Para mobilizar
e facilitar a compreensão e visualização assistimos ao filme: Lancelot – o primeiro cavaleiro, (ZUCKER,
1995).
Atividade 11 –
Problematização e relação passado e presente. Instiguei-os através de um
comentário sobre o feminismo. Questionei-os: Será que Amélia, a “mulher de
verdade” da canção, é um exemplo para o século XXI? Prossegui relacionando à leitura do texto: Generosidade masculina, (KANITZ, Revista
Veja, 2008 – Ponto de Vista), relatando depois que durante milênios, as pessoas
viviam tórridos relacionamentos, mas não costumavam se declarar apaixonadas e
provavelmente nem identificavam com precisão esse sentimento. Somente na Idade
Média (do século X ao XV) surgiram no seio da nobreza as formas do chamado amor
cortês. As juras de fidelidade eterna e os casos de paixão correspondida - ou
não - foram incorporados à sensibilidade e à literatura medievais.
Atividade 12
- Na biblioteca, propus a retomada do
que sabem sobre as cantigas. Dividindo a turma em grupos e apresentei slides do
quadro “E se Houvesse Mais Lama? ( LATINSTOCK e JARDINS, 2006, reportagem de
Veja). Questionei-os sobre uma situação da imagem. Uma oportunidade para avaliação do processo,
através da sistematização do conhecimento.
Atividade 13 – Leitura
do texto “Bons Tempos Aqueles”, (Revista
Veja, 2008). Para enriquecer as
discussões, propus, na biblioteca, que as equipes também levassem em conta
algumas linhas de argumentação contra o machismo, resultando em um debate sobre
a questão: O companheiro ideal é aquele que tenta mascarar com gestos corteses
uma sensibilidade de troglodita? Ou o que, apesar de sua elegância, considera a
figura feminina sua propriedade e age com a brutalidade dos homens das
cavernas?
Atividade 14 -
Encaminhei um exercício que envolve a percepção geral em relação ao
comportamento homem–mulher. Dividi os adolescentes segundo o sexo e pedi que
cada grupo estabelecesse formas de tratamento que julgam adequadas para as
relações de gênero. Um momento oportuno para a avaliação da oralidade adequada
e escrita através das produções argumentativas que propus.
Atividade 15 -
Estudo do Humanismo, seguindo praticamente a mesma metodologia, (pesquisa - LIE)
dividida em grupos para apresentação futura de seminários: Contexto Histórico,
Características, Principais representantes, o teatro. Orientei os alunos sobre
como pesquisar, oferecendo um roteiro relevante. Passos para registrar o
conteúdo e como se daria a sistematização.
Atividade 16 – Na
biblioteca, leitura e comentários sobre Erasmo
de Roterdã - O porta-voz do Humanismo, (Revista Veja, nº 423230, 2008), estabelecida
relações, seguimos com comparações sobre a transição e observação de imagens.
Atividade 17 –
Propus um trabalho mais focado nas obras de Gil Vicente. Após conhecerem o
autor, propus a leitura dos autos: Farsa
de Inês Pereira, O Velho da Horta, A barca do Inferno. Conhecemos alguns
trechos de outros autos também para análise e estudo textual.
Atividade 18 –
Socialização das leituras: oral, escrita e também dramatização do auto: A Barca do Inferno, Gil Vicente. A
equipe escolhida adaptou a obra, elaborou um painel de divulgação da peça e tempos
depois, concretizaram com a apresentação.
Atividade 19 –
Momento da avaliação final da sequência – a escrita de textos que retomaram o
período medieval e retextualizações, neste momento as observações desta viagem,
enriqueceram com a magia da criatividade.
Conclusão
Conforme é sabido a intenção essencial desta sequência
foi aproximar os educandos da literatura, até então, “não descoberta”, conduzidos
para que se conhecesse e tudo se tornasse significativo.
Para tal, o destino traçado foi aproveitar-se de
artimanhas didáticas para seduzir.
Assim, a literatura, no contexto do parágrafo
anterior, por sua vez, teria de colocar em prática a sua magia e exalar-se pelo
ar, permitindo que os educandos fossem levados a uma época remota, porém cheia
de riquezas. Mil aromas, cores, sabores, sons, trovadores, amores impossíveis,
transições... A essência do teatro medieval encantou a todos, permitindo que a
emoção tomasse conta da alma e também as denúncias apresentadas com as cantigas
satíricas, colocassem em evidência as opiniões e também a possibilidade de refutá-las.
O desejado aconteceu! Os educandos submeteram a um passado ligado ao presente e
assim reviveram a época, tornando-se, em meio à fantasia, trovadores, autores
de cantigas reunidas em cancioneiro, personagens do Auto da Barca do Inferno.
Gil Vicente reviveu! O cavaleiro andante, ganhou espaço nos quadrinhos, as
novelas de cavalaria reprisaram, enfim a literatura da época reviveu nas mãos
de aprendizes, que recriaram a literatura.
Referências bibliografias
ANTUNES, I. Aula de português. Encontro e interação. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental.
Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa/Secretaria de Educação.
Fundação Brasília, 1997.
CEREJA, Willian Roberto & MAGALHÃES,
Thereza Cochar. Português Linguagens 1. São
Paulo, Ed. Atual, 2008.
CERVANTES, Miguel
de. Dom
Quixote, Tradução e Adaptação de Walcir Carrasco, Ed. FTD, 2002.
COSTA VAL. O que é produção de
texto na escola? In: Presença pedagógica. Vol. 4, 1998, nº 20, p. 83 –
87.
MARCUSCHI,
Luiz Antonio. Da fala para a escrita:
atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2001.
SESI – SP. Referenciais
Curriculares da rede SESI – São Paulo: SESI, 2003 CD – ROM.
Documentos
Eletrônicos
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