segunda-feira, 5 de março de 2012

A interpretação de textos poéticos, quem ousa arriscar?


Resumo da Sequência Didática         
A interpretação de textos poéticos, quem ousa arriscar?
Autora: Marisa Aparecida de Souza Oliveira
O relato aborda minhas experiências como educadora de duas turmas de 8ª séries, que valem a pena serem relembradas, diante das aprendizagens alcançadas com a sequência didática.
Os conteúdos abordados foram: os gêneros: poesia e crônica poética e o estudo das figuras de linguagem. Meu propósito, desde o início, foi dinamizar e colocar o educando como coautor de sua aprendizagem, visando que analisasse, inferisse, interpretasse, fosse autor de seus próprios textos, e também multiplicador do saber adquirido.
A ideia surgiu, após diagnóstico inicial das dificuldades dos educandos, em produzir os gêneros em destaque, uma vez que o uso de recursos expressivos, era “nulo” em seus textos.
Diante do diagnóstico, iniciei estudos, a fim de sanar tais dificuldades. Li bibliografias sobre o assunto, recorri aos Referenciais da Rede, consultei sites. A partir dos conhecimentos adquiridos, comecei a traçar planos de ação destinados a estes educandos.
Iniciando-se, então, momentos prazerosos e intensos na construção do saber, que foram tomando proporções gratificantes nas trocas de conhecimentos entre professora, alunos e, seduzindo, demais turmas da escola...
No avanço dos “degraus” almejados, pude ver a aprendizagem e as habilidades esperadas, sendo conquistadas.
Escolhi, estes momentos, pois valem a pena serem relembrados.





Expectativas de aprendizagem

- Identificar, compreender e explicar os recursos expressivos intencionalmente registrados pelo autor (adjetivos, advérbios, conjunções, citações, comentários, pontuação, etc.), sabendo utilizá-los em produções textuais.
- Identificar e distinguir os recursos que organizam e estruturam diferentes gêneros de textos, tanto na oralidade, quanto na escrita, analisando a organização textual, o contexto de produção e aspectos linguístico-discursivos dos mesmos: anúncio publicitário, artigo de divulgação científica, artigo de opinião, biografia romanceada, canção, carta aberta, charge, conto psicológico, crônica poética, debate regrado, dissertação escolar, entrevista, estatuto, gráfico, notícia, peça de teatro, poema, reportagens, resenha, romance, sinopse, tabela, entre outros.
- Identificar, interpretar e explicar o assunto e o núcleo temático do texto em estudo.
- Inferir o sentido (literal ou figurado) das palavras ou expressões, a partir de elementos presentes no texto e do contexto de produção.
- Localizar informações explícitas e implícitas contidas no texto em estudo, explicando-as.
- Observar, refletir, reconhecer e aplicar as marcas linguísticas que compõem o gênero textual em estudo.
- Pesquisar, analisar e comparar informações, obras, autores e temas obtidos em diferentes fontes.
- Produzir textos considerando o gênero textual em estudo, de acordo com sua função, organização textual e aspectos linguístico-discursivos, pressupondo o enunciador, o interlocutor e os meios de circulação, utilizando também os recursos coesivos da oralidade e da escrita.
- Retextualizar os próprios textos, com orientação do professor, adequando-os aos gêneros orais e/ ou escritos e ao contexto de produção (interlocutores, finalidade, lugar e momento em que se dá a interação), observando a coerência e a unidade textual.
- Socializar, oralmente e/ ou por escrito, as experiências de leitura de formas diversificadas.
Conteúdos : Gêneros- Poesia/poema/ crônica poética, verso e estrofe.
Recursos da linguagem poética, quanto à sonoridade: rima; e quanto ao significado das palavras: linguagem figurada, conotação e denotação, figuras de linguagem,  Conjunções.
Metodologias/ Desenvolvimento das atividades
Roda de Conversa – Para introdução da sequência didática, selecionei alguns textos poéticos para leitura e após conversamos sobre as impressões que tiveram a partir da leitura dos textos.
Atividade 1 - Continuando, para atingir meu propósito inicial: - A avaliação diagnóstica. Solicitei a produção de um texto poético, partindo da seguinte dinâmica: “Uma folha vermelha, que almejava mudanças”: Solicitei que os educandos trouxessem um pedaço de papel dobradura em tamanho retangular. No dia combinado, avisei-os de que contaria uma história e que os mesmos deveriam estar atentos para seguir os comandos que seriam dados. Iniciei e conforme fui contando a história da folha, aproveitei para incluir experiências vividas na adolescência, que causam impactos, dúvidas, desilusões, fazendo-os sentir-se apavorados, sem saber como agir, diante desta metamorfose. Aproveitei também para incluí-los no enredo, fazendo-os participar com mais atenção. Concluída a história, o pedaço de papel, inicial, vermelho, transformara-se no símbolo do amor: - Um coração.



Atividade 2 - Falamos sobre o amor. Para criar um ambiente favorável à produção inicial, utilizei áudio de músicas instrumentais durante a execução da proposta: Escrever um texto poético, em prosa ou verso que definisse ou abordasse o tema : Que amor é esse que invade o peito e alegra a alma...  
Todos realizaram sem perguntas extras, parecendo dominar o assunto.
Ao obter as produções, para minha surpresa, escreveram sobre o amor, porém sem apresentarem subjetividade e estruturas necessárias ao gênero poético em prosa ou verso.
Vi a necessidade imediata de tomar decisões e replanejar as estratégias de Ensino-Aprendizagem, a fim de atingir as expectativas e objetivos traçados, conforme já relatados.
Guardei os textos para futura retextualização e busquei novas estratégias em bibliografias, referencial pedagógico, endereços eletrônicos.


Atividade 3 - Reiniciei solicitando que os educandos pesquisassem sobre autores de poesias/poemas e crônicas poéticas. Trouxeram um bom acervo para começarmos. Lemos biografias, textos poéticos, que abordaram diversos assuntos, desde o amor até assuntos dos mais diversos do cotidiano. Conhecemos os autores, entre eles: Camões, Vinícius de Moraes, Cecília Meirelles, Mario Quintana, Renato Russo... E reservamos o material coletado, em um espaço da sala, para possíveis pesquisas.



Atividade 4 - Trouxe para a sala três textos: que abordavam o mesmo tema: O amor. Esses textos utilizados foram: Soneto Amor é fogo que arde sem se ver, de Camões; Carta aos Coríntios, do Apóstolo Paulo, e Monte Castelo, de Renato Russo. Discutimos, questionamos. Chamei atenção para alguns trechos, a fim de que percebessem a linguagem figurada, também ao contexto de produção, destacamos o assunto de cada texto, ideia central e comparações entre eles, que submeteram-nos diante da Intertextualidade. Propus uma análise escrita da socialização, como registro do primeiro momento e percepções diante dos textos.

Atividade 5 - Atribui a eles, diversos textos com gêneros diversificados para que em grupos classificassem como: texto  literário e não literário. Conversamos sobre os textos.

Atividade 6 - Preparei um jogo com as características dos textos literários e não literários, para que, os grupos formados anteriormente, separassem, classificando como características do literário e do não literário. E diante da proposta,  justificassem a escolha. Para minha surpresa, não apresentaram dificuldades, a maioria. Tendo um grupo a necessidade de orientações extras, que levaram-nos a concluir a atividade juntos. Diante desta, percebi que aquele grupo, necessitava de atenção especial.
O resultado foi gratificante, partimos para mais um registro: O que aprendemos sobre textos  literários e não literários.




Atividade 7 - Solicitei que trouxessem um modelo de texto literário. Trouxeram vários, como: contos, fábulas, poesias, crônicas...E apresentassem.
Enfatizei a poesia e crônica poética. Pedindo que separassem as poesias e aqueles textos, que embora em prosa, parecia-se com a poesia. Conversamos sobre as semelhanças.




Atividade 8 - Escolhi uma crônica poética e duas poesias e retirei trechos que se compunham de linguagem figurada e questionei-os sobre o sentido.
Falamos sobre a linguagem figurada, possíveis intenções do autor, público-alvo....
Atividade 9 - Na sala de Informática educacional, pesquisaram sobre linguagem figurada e não figurada. Sua definição, mais exemplos e sistematizamos a conotação e denotação.
Atividade 10 - Propus a leitura do poema: Motivo, de Cecília Meirelles, após  enfoquei a forma que os  poetas “enxergam” o mundo. Depois investigamos juntos os aspectos mais relevantes do texto. Por que é um poema? Suas características? Questionei a mensagem sugerida no título e a relação do título com o contexto do texto.

Atividade 11 - Solicitei que destacassem os versos de difícil entendimento. Entre eles, chamei a atenção ao terceiro verso: “Não sou alegre nem triste”, devido à presença da antítese (figura de linguagem que aproxima duas palavras ou pensamentos de sentido contrário). E assim sucessivamente, abordamos a análise de outros versos que apresentavam mais figuras de linguagem, como a metáfora, presente no verso: “Tem sangue eterno a asa ritmada”.Questionei-os sobre o assunto: O que poderia ser a asa ritmada.


Atividade 12 - Pedi que os estudantes construíssem uma síntese semântica do texto com base em um roteiro de questões.  Repeti a atividade com outros poemas, entre eles o Soneto de fidelidade, de Vinícius de Moraes, abordando a metáfora, antítese, aliteração, polissíndeto, paradoxo, pleonasmo e também, o trabalho com a inferência.
A fim de enfatizar a catacrese, abordei o texto: Inutilidades, de José Paulo Paes.Para ajudar a construir o significado dos textos, propus  perguntas que levou  em conta o percurso proposto pelo poeta. Mostrei a estrutura do soneto, rimas – recursos essenciais à musicalidade, juntamente com a métrica.

Atividade 13 - Diante de palavras desconhecidas em um texto,  propus um exercício de dedução de significação. Já que nem sempre o poeta, quer dizer,o que diz a palavra. Lembrando - se de que: “O poeta é um artesão” (Olavo Bilac).

Atividade 14 - Introduzi a leitura da crônica poética: Para viver um grande amor, de Vinícius de Moraes, aproveitei  para chamar  atenção no que se refere a repetição do verso: “para viver um grande amor” e as intenções do autor, as figuras de linguagem presentes, as semelhanças com o poema.
Apresentando, aos educandos, a possibilidade de escrever textos poéticos também em prosa.

Atividade 15 - Através de fichas misturadas , os educandos tiveram contato com as características do texto poético, em versos ou prosa, apresentando-as e por fim, registrando coletivamente as  semelhanças e diferenças.
Perceberam que na poesia os versos são livres, soltos, não necessitam de conectivos e na prosa, as ideias são ligadas por eles, que formam os períodos e expressam-se de acordo com a classificação das conjunções e contexto.

Atividade 16 – Propus  pesquisa no LIE sobre as conjunções, e através de algumas atividades, porém rápidas, diante das crônicas abordadas. Focamos as conjunções, suas classificações e uso. Sistematizamos rapidamente, com o objetivo de retomá-las mais tarde, em momentos futuros de aprendizagens das turmas. Já que no momento, o olhar cabia as figuras de linguagem.



Atividade 17 - Para diferenciar poema e poesia, realizamos a leitura do poema: Poema são pássaros – de Mario Quintana. Apliquei novas atividades de análise  semântica, abordei ou uso das metáforas e outras figuras, porém permitindo que os educandos  identificassem-nas, inferissem no sentido e interpretação do autor.
Em novos momentos abordamos novos poemas e poesias.
 Pesquisamos suas diferenças e semelhanças, de acordo com diversos autores. Traçamos uma sistematização para cada um deles: Poesia e poema.

Atividade 18 – Partimos para a escrita de poemas/poesias, com temas diferenciados, inclusive partindo da observação de imagens.

Atividade 19 - Analisamos novos poemas entre eles: Trem de ferro, de Manuel Bandeira – a fim de focarmos o ritmo. Dramatizamos o mesmo.

Atividade 20 – Avaliação, novamente, informal - Voltei a questioná-los sobre as intenções do poeta, a plurissignificação que atribui as palavras e ao mundo, reforçando o sentido conotativo em seus dizeres. E o uso das figuras de linguagem.

Atividade 21 - No LIE, pedi que pesquisassem sobre as figuras de linguagem , porém definindo-as com suas palavras. A fim de garantir o aprendizado.

Atividade 22 - Diante de uma ideia apresentada no site da revista Nova Escola, conheci a sequência didática: A lata do poeta, da consultora: Heloisa Cerri Ramos, E aproveitei para adaptar e propor aos educandos a mesma, e assim diante de novas pesquisas, retirassem de textos figuras de linguagem e colocassem na lata do poeta.
Para isso dividi-os, através da dinâmica para montagem de grupo: Montando o quebra-cabeça. Cada aluno sorteou uma peça que compunha uma  figura e assim formaram a figura e o grupo. Permitindo assim, um equilíbrio entre os grupos. Evitando que os educandos com um pouco mais de dificuldades de aprendizagem, ficassem em um mesmo grupo. E assim, garantindo a participação de todos nas atividades. Possibilitando que a aprendizagem acontecesse entre os componentes do grupo, através desta interação.
Formado os grupos, partimos para a confecção da lata do poeta, onde “tudo” ou “nada” cabe.
Prontas e lindas, utilizando textos que trouxeram de casa, ou entre os livros que temos em um espaço da escola, pesquisaram as figuras de linguagem nos textos literários.
A surpresa foi tanta, que rapidamente,  a lata do poeta de cada grupo, estava cheias de linguagem figurada, entre elas muitas metáforas e textos selecionados.
O próximo passo foi reproduzir esses trechos em fichas coloridas e colocá-las de vez na lata. Os textos selecionados não poderiam ser descartados, então, compuseram a pasta do poeta.

Atividade 23 - Entre os grupos, iniciou-se a revisão do estudo das figuras de linguagem, diante dos materiais trocados, e servidos como questões, identificação da figura e interpretação da intencionalidade do autor. Problematizada entre os grupos.
Atividade 24 - Diante do aprendizado e etapas do trabalho, redigi um roteiro para avaliação do texto inicial do aluno, aquele sobre o Amor. Para que avaliassem os textos. O interessante foi perceberem que não haviam se aproveitado dos recursos de um poeta. E assim, imediatamente, iniciaram a retextualização e a empolgação foi intensa e prazerosa, aos vê-los agindo como poetas.
 - Eis a missão cumprida!




Considerações finais
                          Para aproveitarmos ainda mais o material e bagagem adquirida, tivemos momentos de socialização das 8ª séries, apresentando a lata do poeta aos educandos das 6ª séries, com entusiasmo, despertando o interesse, interpretação, definição e exemplificação das figuras de linguagem, exercendo as habilidades de  verdadeiros coautores e multiplicadores do saber.
                          No final, ambas as turmas responderam a um questionário sobre a atividade socializada. E a curiosidade, satisfação e  participação foram bem gratificantes.
                          Ainda, os textos pesquisados, inicialmente, aqueles textos literários, parte deles, foram utilizados, mais tarde e ampliados na lata do poeta, compostas, então, por: poesias, fábulas, contos, imagens... destinados aos educandos das séries iniciais, (Fundamental I). Cada grupo preparou uma dinâmica  para incentivar a leitura dos pequenos. Em data marcada com a professora da série, desenvolveram atividades diversificadas que incentivaram a leitura, entre elas, a apresentação da lata do poeta  com os textos selecionados, aguçando a curiosidade dos pequenos e a seleção de um texto para a hora da história, além de atividades variadas de interpretação. Entre elas: pinturas, teatro, músicas, painéis, uso do LIE e até presentes, como o que fora entregue ao 1º ano inicial: - um peixinho, como lembrança do grupo.
                          As professoras adoraram e até pediram novos momentos de interação.










BIBLIOGRAFIAS

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CEREJA, W.R.; MAGALHÃES, T.C. – Português Linguagens 7ª e 8ª séries. Atual Editora, 2002

CEREJA, W. R.; MAGALHÃES, T. C. Português: linguagens literatura, produção de textos,Gramática. V. 2 (livro do professor). 4. ed. São Paulo: Atual, 2004.

CEREJA, W. R.; MAGALHÃES, T. C. Gramática Reflexiva – texto, Semântica e Interação – 3ª Ed. – conforme a Nova Ortografia, Atual Editora, 2009.

DOLZ, Joaquim. Os gêneros escolares – das práticas de linguagem aos objetos de ensino. In: SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim; Campinas, SP, 2004


QUINTANA, Mario. Para viver com Poesia - Editora: Globo , São Paulo, 3ª reimpressão
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Documentos em meio eletrônico
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MEIRELES, Cecília, Motivos. Disponível em: www.recantodasletras.com.br/duetos/3003728 . Acesso em 20 fev. 2010

NOVA ESCOLA. Planos de aula de Língua Portuguesa – Ensino Fundamental II. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/planos-de-aula. acesso em 02 fev.2009.   

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RAMOS, Heloisa Cerri, O que cabe na lata do poeta.  Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/pratica-pedagogica/o-que-%20cabe-%20na-lata-do-poeta-426207.shtml. acesso em 03 mar.2010.





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