segunda-feira, 12 de março de 2012

Teatro: Boquinha da Noite

Boquinha da Noite  
Conto de Jair Vitória, adaptação ao gênero teatral: Professora: Marisa Ap. de Souza Oliveira.
Mirna: ( limpando a casa desanimada) - Ara que cansera. Oh, vida mardita é só limpa, limpa. Já não aguento mai, ter que aguentar o Crispim dando ordem e não deixano eu namora ninguém.
(Barulho de carro. Mirna corre se arruma e vai na janela)
Crispim : - Mirna!
Mirna : - Ara que susto, Crispim.
Crispim: - O que cê tá fazendo na janela?
 Mirna : - Tirando o pó.
 Crispim: - Ara sua mentirosa, assanhada, o cê tá de zóio no vizinho de cabelo branco. Acho que é até mai veio do que o pai.
Mirna : - Ara, que sabe, Crispim. Nun aguento mais essa vida ingrata. Oio pro veio memo. Eu vou casar com ele.
Crispim: -  Você tá tirando fora do sério.
Mirna : - Eu com isso!
Cripim: - Ara Mirna, eu vou  dar uma coça no cê!
Mirna: Cuidado com o coração, Crispim.
Crispim : 1,2,3 ... Vou ter mais carma por causa do meu coração.
(abraça a Mirna) : - Eu vou contar uma história.
Mirna :- Adoro história
Crispim:  - Então, fique quieta pra eu conta. Era um a vez um homenzinho de cabelo... (Os dois saem tranquilamente)
 Cena – (Boquinha passando perfume) Fundo musicalBoquinha:  – Castanho, o cavalo bonito, venha até aqui. Que hoje vamos num baile e temos que atravessar o  Rio grande para chegar no Triângulo mineiro.
( Monta e sai pacatau, pacatau).
 Cena – Bailão (todos dançando, Boquinha chega no baile, as mulheres babam para dançar com ele).
 Cena – (Todos saem aos poucos e voltam p/ casa, fim de festa).
5ª cena – (Boquinha chega em casa, de mansinho, tirando o sapato)  fundo musical - Briga c/ a mulher)
Mulher – Severino, agora são horas de chegar ?
                Que perfume é esse?
Boquinha  - É o meu mesmo!
Mulher – Seu sem vergonha, descarado, nosso amor acabou.
6ª cena – (cachorro tigre faz carinho na mulher)
Mulher – Sai pra lá seu pulguento . Suma junto de seu dono
(Cachorro – chora)
(Desespero da mulher)música
 Cena –( Boquinha montado no castanho. Tigre atrás...)
Boquiinha: - É Castanho e tigre só tenho vocês.
                    - Vamos se embora tenta a vida lá nas bandas do sul
 Cena – (Caminham cansado e encontram Ninico sentado na tapera). Música
Boquinha : -  Ei amigo, gente boa
                    -  Você não sabe onde tem um tapera pra aluga.
                      Venho do Rio Grande, lá das bandas do triângulo mineiro.
Ninico: - O de casa, os seis não parecem ruim. Em casa não é grande coisa, mas sempre cabe mais um. Vamos se hospeda lá ...
Ninico: - Sente amigo pra descansar e nois proseá um pouquinho.
Boquinha: Eta fuminho bão!
Ninico: É da plantação do Jorginho .
(Silêncio total)
 cena:  ( Família de mudança)Roque : - Anda muié!
Maria: - Tô indo benzinho.
            -  Anda meninos, o pai tá bravo.
10ª cena –( Detinha pisca para boquinha. Boquinha se derrete todo) MúsicaMaria: - Anda Odete, o diacho tenha modos. Desse jeito vai ficar mar falada.
Boquinha: - O Ninico, você viu a família que mudou pra tapera do seu amigo Jorginho ?
Ninico: - É claro que sim , uma família de prole grande, eih?
Boquinha :  - E você viu a moça que veio com eles ?
Ninico: - Sim, uma moça de sorriso malfeito, mas um corpo bom feitio.
Boquinha : - Você ouviu o nome dela ?
Ninico: - Parece ser Odete.
Boquinha : - Bonita, Né.
Ninico : - Olha homem! Esqueceu-se da outra já?  Ocê não pode pensar em moça mais não.
               Oia cabelo empainando.
Boquinha: - Ora, tu é besta sô, sou homem de cativar mulher demais ainda.
Ninico: - Deixe de pensamento bobo, homem!
Boquinha: - Pois vou ganhar a Odete. Até o nome é bonito “ Odete” !
Ninico : - Ora homem , vamos entrar e dormir que ninguém e de ferro. E tem mais dizem ter lobisomem por aqui.
(Uivo do Lobisomem e correria dos dois)
11ª cena – (Galo canta)  (Levantam boquinha e ninico).
Ninico : - Que cara de felicidade e safadeza é essa homi?
Boquinha : -  Tive um sonho tão bão.
Ninico : - Que sonho é esse ?
Boquinha :- Ara, sonhei com a Odete, que belezura de muié.
Ninico : - Mai ocê ainda tá com esses pensamentos, isso não vai prestá.
Boquinha : - O cê vai vê, ninico, vou ganhar a Odete pra mim.
12ª Cena : (Tigre cheira a lata de lavagem)
Boquinha : - Sai tigre, tenha modos, que nós somos visita.
Ninico : - Você tá se arrumando tanto por quê ? Que cheiro de prefume é esse ?
Boquinha :  - Já que o cê quer saber! Vou na casa do vizinho novo proseá um pouco.
Ninico : - Juízo, homi, para não se arrepender depois.
Boquinha : - Tá bão, homi
13ª Cena : ( Ninico sai e boquinha monta no castanho e sai também)
14ª Cena
Boquinha : (Palmas) - Ôde casa!
Roque : - Pois não, em que posso ajudá o senhor?
Boquinha : -Tudo bem com o senhor ?
Roque: -Tudo bem sim, mas quem é o senhô ?
Boquinha:- Me chamo Severino, mas todo mundo me chama de Boquinha.
Roque: - O meu é Roque, vamos entrar ?
15ª Cena  (sentados)
Roque: - E você mora por aqui ?
Boquinha : - Logo ali no começo da estrada, na tapera do ninico.
Roque :- Oh, Maria!
Maria: - Oque foi Roque ?
Roque: -  Esse é o novo vizinho, o seu boquinha.
Maria : -  Como vai ?
Boquinha : - Melhor agora, como todo respeito.
Roque: - Esses são todos meus filhos.
Filhos: - Boa tarde!
Roque : - E essa é minha filha, Odete!
Odete :- Oi.
Boquinha : - Oi, moça.
Odete :- Aceita uma caneca de café ?
Boquinha : -Aceito sim!
Odete : - Vou buscar.
Roque : - E você mora sozinho , seu Boquinha ?
Boquinha :-  Não senhor, moro com um amigo gente boa, mais meu cachorro Tigre e o meu cavalo castanho. Eles me acompanham desde quando morava no Rio Grande.
Maria :- Já devo te visto ele nas redondezas.
Odete: - Olha a caneca de café, está muito quente, cuidado para não se queimar.
Boquinha: (Queimaa  boca)
16ª Cena : (Desespero da boca queimada e ao mesmo tempo em doidura de amor)
Boquinha :- Logo já vai escurecer. Até mais vê
Roque, Maria e Odete – Até mais vê Boquinha.
17ª Cena : 0 Feliz da vida pelo sorriso da Odete, chega em casa.
18ª Cena : - O tigre venha até aqui, cachorrinho companheiro, meu amigão. A Odete tá gostando meu. Ela é uma belezura.
(Boquinha  senta e permanece assombrando com o pensamento longe)
19ª Cena
 Boquinha: - Tive uma ideia. Mas tenho que coloca em prática logo, antes que Ninico apareça.

20ª cena : Palco vazio( bastidores  barulho de galinhas, frango , som de galinheiro).
(Aparece Boquinha com um frango)
21ª cena : (Roque carpinando).
(Boquinha c/ frango embaixo do braço)  - O seu Roque!
Roque : - O que vem fazê por aqui, Boquinha?
Boquinha: - Tá aqui um franguinho que eu trouxe de presente pra vocês. Na Bahia tinha desse costume com o vizinho Novo.
Roque : - Ah ! Não precisava tanto! Deus lhe pague! Sente-se um pouco homem.
Odete :- Oi, Boquinha.
Boquinha: - Oi, Odete (Boquinha, totalmente com olhar apaixonado)
Roque : - Fique aqui um instante, minha fia, fazendo companhia pro seu boquinha, enquanto vou guardá o frango pro armoço de amanhã e lava os pé.
Odete : - Sim meu pai! Posso senta aqui do seu lado, seu Boquinha ?
Boquinha: Sim é claro, que pode.
22ª Cena ( Boquinha bem nervoso, não sabe o que faz com as mãos) Eu tenho um cavalo.
Odete : - Ah, ele deve ser uma belezura, mas não mais do que você.
23ª Cena – (Boquinha pega na mão de Odete).
                   ( Ela faz um charme).
                  Boquinha: Preciso ir embora, já é tarde.
                   ( Monta no castanho e sai)
                    Pacatau, pacartau, pacatau ...
Boquinha : - O Castanho, que belezura de muié.
                     - Oia Castanho, uma loja.
                     - Pare ai, Castanho.
                    - Vou comprá um presente pra Detinha.
Vendedora :  -Pois Não senhor, em que posso ajudá-lo.
Boquinha : - Ah, eu quero um corte de tecido de chita, bem bonito pra fazer um vestinho pra detinha
vendedora : - Esse é bonito, bem alegre.
Boquinha:  - É esse mesmo! Vou levar pra Odete.
24ª Cena  - (Sai ... Chegando em casa)
Boquinh : - Oh Ninico, olha o corte de vestido que comprei pra Detinha.
Ninico : -Tira a moça da cabeça, homi. Ela tá querendo te enganar, sô!
Boquinha : - Enganar nada, já até dei bicota nela, embaixo da figueira.
Ninico: - Então o negócio tá sério, companheiro!
Boquinha:-  Falo com o velho daqui uns tempos.
Ninico: - Vai ser difícil convencer o homem.
Boquinha :-  Que nada homi! Mas vamos lá dentro ajudar eu fazê um embrulho bem bonito.
25ª Cena : (Roque passando) ...
Duas fofoqueiras : -  O seu Roque, a Detinha vai casar com o baianinho ?
Roque : - Ham! Eu vou dar uma pedrada só, mas minha pedrada vai ser certeira, eu não erro não, vou dar uma pedrada só. Onde já se viu uma coisa dessa!
Fofoqueiras: - Tome cuidado seu Roque, ele não deve estar levando frango e vestido toda semana só por amizade, não.
Roque : - É bom, assim fico contente ao ver minha filha ganhando corte de vestido e frango pro armoço de domingo.
26ª Cena – (Crispim e Mirna).
Crispim – Boquinha da noite estava perdido de amor pela moça, até trabalhava de graça para o seu Roque.
Mirna : - O coitado, trabalhador ele, né, Crispim.
Crispim: - É Mirna! Mas certo dia, ele tomou coragem e aproveitou que só estava com o seu Roque e  Dona Maria na casa e ...
Boquinha : - Seu Roque, eu precisava falar como senhor.
Roque : -  Diga Severino!
Boquinha : É, é , é , é ...
Roque: -  Fala Homi.
Boquinha :- É que eu queria pedi a mão de sua filha em casamento.
Maria : - Oquê?
Roque: - Sei, sei, eu não sou contra nada Severino, é só isso. Agora me deixe.

27ª Cena  (Boquinha sai contente)   - A  Detinha há de ser minha. Seu Roque disse que sim.
Maria : -  Esse homem deve estar louco , nossa filha casar com um homem de 50 anos. Até perece. Ela só tem dezessete anos.
Roque : - Não se preocupe mulher, porque isso não vai acontecer.
( Saem de cena )
Ninico : - Di acho será que o baianinho vai mesmo casar com uma doninha de 17 anos. Só vendo para crê.
28ª Cena – (Boquinha se arrumando) -  Nesse baile, quero namorar à beça,
                    vou dançar à noite toda com a Detinha.   Os rapazes mais novo vão ficar com inveja de eu.
Ninico : - Vai com carma Boquinha.
Boquinha : - Alegria mesmo ninico, é passar noites num colchão de palha, nos braços de Detinha.
                    Já estou até sonhando com esse momento.
                    ( saem de cena )
29ª Cena  
Odete : - Anda Onésio, Anda Acácio quero chegar logo neste baile. Estou tão bonita nesse vestido
30ª Cena -  (Baile muita agitação todos dançando).
(Odete chega e logo se esbarra em um belo moço).

Odete : - Oi
Moço: -  Desculpa, te machuquei ?
Odete : - Não, Não me machucou não!
Moço : - Nossa a curpa foi toda minha.
Odete :- Não, foi eu que não percebi que o moço estava atrás.
Moço : - Você aceita dançar comigo ?
Odete : - É claro que sim.
(Nisto chega o Boquinha e a segura pela cintura).
(Odete, tira a mão de Boquinha e...
Você não se importa de eu dançar com o moço, não é Boquinha ?
31ª Cena  -(Boquinha  fica acabado, decepcionado com a vontade de agredir o moço, mas se controla,. Violência não leva a nada).
Boquinha : - Não, eu não me importo.
32ª Cena    (Boquinha observa e Odete dança feliz com o moço)
Moço :-  Você é muito bonita, sabia ?
Odete : - Obrigada , seus zóio que são generoso.
Moço : - Qual é seu nome ?
Odete : - É Odete, mas todos me chamam de Detinha.
              - E o seu nome ?
Moço : - O meu nome é Felisbino.
Odete : - Que nome lindo !
Moço: - Nada comparado a sua beleza
33ª Cena – (Odete e o moço olhares apaixonados, Param de dançar. Ele a abraça pela cintura e ficam num canto. Trocando olhares apaixonados.)
34ª Cena – (Boquinha sai para agredir o moço,. Ninico o segura )
Ninico : - Carma homi, isso não vai leva a nada. Eu te disse pra não se iludi com a moça.
Boquinha :-Eu sou mesmo um trouxa, como pude acreditar que poderia casar com a Detinha.
35ª Cena –( Boquinha sai desesperado) – Castanho, Castanho.
(Monta  no Castanho): - Pacatau, pacatau, pacatau ...
36ª Cena – (Muito barulho do cavalo e de água e os gritos de Boquinha).
Boquinha : - O vida amargurada sem açúcar, sem amor , sem alegria, melhor é morrer ...

(Mirna e Crispim)
Crispim : - É Mirna, o que ele mais queria era morrer. Tinha Parpite de morte no coração!
                 Ele partiu em direção do Rio.
Mirna: - Coitado! E a Odete ?
Crispim :  - A Odete chorou de remorso, mas logo voltou a sorrir ao lado do jovem rapaz .
                    Roque dizia que ele era velho demais para a sua filha
                    Mas era trabalhador e boa pessoa
                    Contam as vidente que acreditou  ter visões, que na Boquinha da noite, um homem dança no meio do rio, sobre as águas e uma sanfona soa indefinidamente, mas o vulto e o som somem quando as pessoas afirmam o olhar.
37ª Cena (Boquinha dança ao som da sanfona e desaparece) .
Mirna : - Não é pra me gamba mais a mãe sempre dizia que o homem que casa com eu há de te uma vida de rei, se esse tar de Boquinha tivesse casado comigo não teria um fim triste desse.
Crispim : - Ah! Mirna, mas nem defunto se perdoa.
                O pai não tá aqui,mai eu vou dar uma coça no  cê.
                O irmã sem vergonha que eu tenho.   
                   
Mirna: - Alguém viu o Crispim por aqui?
(Aparece o fantasma de Boquinha para agarrá-la, ela se assusta e sae correndo gritando)
(Boquinha decepcionado, dança ao som da sanfona e vai saindo , escurece o ambiente)

 Veja um pouquinho desta peça divertidíssima...
O elenco todo

Eu no papel de Maria, junto da esposa de Boquinha...




O elenco se arrumando: Felisbino, Boquinha, Ninico, Roque e o Lobisomem
Na E.M.E.F. Sargento...

Bailão

Boquinha é expulso de casa
O lobisomem
Boquinha, Ninico e Tigre

Detinha e Ninico

Detinha, Roque, Boquinha e o franguinho do almoço
Sr. Roque



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